terça-feira, 30 de junho de 2009

The King

E eu continuei nos 80's, como homenagem silenciosa e particular ao King of Pop.
Sou fã do Michael Jackson desde que ele tinha 5 anos, e eu um ano a mais. Fiz essa viagem no tempo, pra época das festinhas, quando treinava os passos dele. Na hora H não saía nada, mas era divertido demais. E o som? e o 'soul'? Fiquei muito tempo vendo clipes e ouvindo as músicas e curtindo.
Além das doces recordações da juventude, porém, fui 'tocada' pelo mosaico de imagens que representavam a (quase) incrível transformação física, me fazendo perguntar que imagem ele perseguia? e, quem eu penso que sou? quais são as minhas transformações?
Como se já não tivesse perguntas o suficiente, também quis saber se ia continuar a escrever o blog, porque não quero manter minha identidade vinculada ao câncer. E eu senti compaixão pelo Michael, pelo desassossego que ele deve ter vivido, confundindo imagem com identidade.
Durante essa crise fiz dois rascunhos que não publiquei, mas eu gosto de escrever.

Olha o swing de 'Don't Stop 'Til You Get Enough '

Aqui, a estrela do showbizz

sexta-feira, 19 de junho de 2009

80's



Quando eu me formei em Psicologia, em 1982, fui me direcionando para a Clínica, seguindo um roteiro mais ou menos básico de recém formada; horário sublocado em consultorio, era paciente de psicanálise, fazia grupo de estudo - tudo sob a regência de herr doctor Freud. Eu simpatizava muito com os colegas que foram se encaminhando pro lado de outras práticas, principalmente das terapias corporais, mas achava que era meio oba-oba, sei lá... eu achava que o pessoal era meio hippie e eu queria 'fazer psicanálise' na Saúde Mental. O que eu estava querendo, mesmo, era pertencer ao clubinho dos conhecedores da alma humana.
No finalzinho do tratamento de quimioterapia, já exausta fisicamente, eu só pensava em como seria retomar minha vida dali pra frente - refazer a clientela, reencontrar pessoas, "cair dentro", como se diz. Eu tive medo. Me sentia vulnerável, frágil; eu tinha sido atingida. Me dei umas semanas de descanso, sem decidir nada, até que fiz o primeiro exame de controle pós-quimio. Tudo ok. Foi dando uma coragem, aos poucos, e fui em frente. E então, começou a angustia de não saber se ia dar conta do recado, corresponder a confiança de colegas, transitar pela cidade, estar fora de casa quando caía a noite. O sentimento de vulnerabilidade apareceu através do corpo, com taquicardia e vontade de fugir.
Uma coisa que eu descobri com o câncer, é que eu sou do tipo que procura logo a solução. Fiz umas tentativas com terapia verbal, mas não me acertei com ninguém; voltei a praticar capoeira pra me sentir mais forte e me matriculei num curso como atualização profissional.
É interessante como a solução às vezes está tão perto de nós.
Na vila onde é meu consultório conheci uma pessoa que faz preparação de atores. Conversa vai conversa vem, um dia depois do outro, eu falei com ela da dificuldade de estar em público, quase um constrangimento; não era como timidez ou fobia, eu estava me sentindo muito à flor da pele para me expor. Talvez se eu treinasse umas técnicas teatrais... Ela franziu o cenho e disse, parecendo displicente, "- venha experimentar o grupo".
Fui e estou até agora, fazem três meses. O grupo não tem nada, e ao mesmo tempo tem tudo, a ver com técnicas de interpretação. O trabalho é de conscientização corporal, que vai sendo adquirida através de movimentos, propostos por ela, ao mesmo tempo em que lidamos com limites e possibilidades individuais. Onde dói? onde está encolhido? usa o olho! solta a boca! faz devagar, não força, vai... Aprendi sobre expressão facial, sobre os gestos e a postura corporal. A pessoa vai tomando consciencia de como anda, como pisa, onde estão os ombros, o queixo... e também vai tomando consciência de si, do que está expressando e do que quer pra si. Eu me desconstruí para eliminar um tumor, e tem sido bem apropriado que eu esteja reconstruindo, na prática, esse corpo.
Dia desses, explicando um movimento, ela disse "- (...) por isso a Théresè escreveu "O Corpo tem suas Razões"... e eu entendi porque estava ali (lembra que esse foi o livro que me caiu nas mãos, falando sobre as emoções e o corpo?).
Eu sempre simpatizei com o pessoal das terapias corporais e foi legal dar uma passada lá nos 80's.

Está bom recomeçar, tô me sentindo bem mais forte...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Corpo tem suas Razões


No final dos anos 70, passando pros 80, eu era estudante de psicologia, trabalhava com crianças e adolescentes autistas e psicoticos, e tinha começado minha terapia pessoal - condição sine qua non para quem quer trabalhar com loucura(s). Me caiu nas mãos o livro "O Corpo tem suas Razões", onde a autora, Thérèse Bertherat, escreve sobre como o corpo registra as emoções. Cito um trecho: "Nosso corpo somos nós. Somos o que parecemos ser. Nosso modo de parecer é nosso modo de ser. (...) Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro... pois corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas sua unidade."Eu fiquei bem impressionada com o texto, um contraponto para a dominante psicanalise da qual eu era aprendiz. Foi bom eu ter agregado essa compreensão ao meu repertório e ter mantido essa dimensão do não verbal me acompanhando a vida.
Foi a partir disto que eu busquei o significado de estar com câncer, o tal recado que eu mencionei no post anterior. Foi um trabalho solitário; não são muitas as pessoas que concordam que um sentimento pode provocar o adoecimento do corpo, e, além disso, a maioria prefere achar que não fez nada contra si mesmo...
Por causa dessa ideia, de que 'o corpo de um ser e sua vida são uma mesma coisa', minha principal preocupação tem sido ter a melhor vida possível, cultivando qualidade nas relações e nos afazeres cotidianos. Quero fazer uma vida cada vez melhor porque tenho certeza que assim vou preservar minha saúde.

Da proxima vez, vou escrever sobre como eu conheci uma profissional que trabalha por esta vertente, e sobre como eu tenho feito disto a minha terapia.
PS - O livro "A Cura Quântica", do Deepak Chopra, também toca nesse assunto - o que nossos sentimentos fazem com o corpo. A ilustração aí ao lado é um slide que corre na web, com texto dele, e chama-se Mutantes. Tem no Google.

Alguém como recheio


Ninguém fica sabendo que está com câncer de uma hora pra outra. Há o processo de diagnóstico, com vários exames que vão evoluindo em complexidade e busca da exatidão; de forma que eu, mais ou menos, fui me preparando para o desfecho.
Eu sabia que meu corpo estava me mandando um sinal de alerta, e sabia que não era a respeito do corpo físico propriamente dito, embora fosse através dele que o recado tinha chegado.
Eu não acredito que corpo/mente/espírito são separados; ao contrário, acredito que funcionam como um todo integrado e interdependente. Alguém consegue imaginar uma mente vagando por aí, errante, sem um corpo que a contenha ou que esteja contido nela? E olha que eu nem quero falar de religião ou crenças, só filosofar... Por exemplo: eu tenho tantas interrogações sobre o que aconteceu comigo que às vezes a cabeça parece que fica pequena pra tanto pensamento; ou, no peito tenho a sensação de roupa apertada, parecendo que eu ‘tô presa dentro de mim mesma.
Mente, corpo, eu - dá pra ser separado? onde começa um e acaba o outro?
Tive certeza que para o tratamento com quimioterapia ter mais chances de sucesso eu ia precisar cuidar da mente e do espírito também e, logo compreendi, isso me levaria a uma longa jornada, Virginia adentro.
Minha hipótese foi: considerando que a matéria é concentração de energia, e, considerando que a matéria era o tumor, se eu conseguisse diluir “A Energia”, a matéria deixaria de existir. Atenção a um pequeno, porém importante detalhe – tumor, energia e eu, é a mesma coisa. E a pergunta que não calava era, por que eu me consumia? Não esperei pela resposta. Dia após dia, criteriosamente, usei a meditação pra acessar os escaninhos emocionais e fui desapegando de tudo que eu considerei destrutivo. Desapontamento, mágoa, pirraça, dogma, um monte de lixo. Deu certo.
O Arnaldo Antunes (da banda Titãs) fez um livro de poemas, e um deles diz assim:
"O corpo existe e pode ser pego. É suficientemente opaco para que se possa vê-lo. Se ficar olhando anos voce pode ver crescer o cabelo. O corpo existe porque foi feito. Por isso tem um buraco no meio. O corpo existe, dado que exala cheiro. E em cada extremidade existe um dedo. O corpo se cortado espirra um líquido vermelho. O corpo tem alguém como recheio."

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Vlw N1


Eu fiquei um tempão sem escrever nada. Queria fazer umas mudanças na configuração e acabei perdendo o acesso ao blog... Felizmente existe o 'forum de ajuda' do Blogger, onde eu consegui ajuda e pude recuperar o acesso. Vlw N1!
Quando eu tinha uns 11/12 anos li um livro da época, 'pra meninas', que se chamava Pollyana. Não sei se eu lembro direito, mas acho que a personagem era órfã, estava indo morar com uma tia rabugenta, que ela nunca tinha visto antes etc. O que eu lembro com certeza, é que a menina fazia o "Jogo do Contente"; o tal jogo era uma atitude frente à vida, onde ela procurava sempre o lado bom dos acontecimentos. E todos em volta admiravam a menina e ela até conseguiu o amor da tal tia. Lindo, né?
Pois então, o lado bom foi perceber que o meu empenho pra recuperar o blog e a falta que eu senti de vir aqui, desabafar, são o reflexo de que está me fazendo muito bem poder escrever e, ao fazê-lo, refletir sobre meu cotidiano.
Meu trabalho me ensinou que a gente deve prestar atenção ao nosso fazer cotidiano, pessoal ou profissionalmente. Reflexão sobre a prática, esse é o nome. Mas isso já é outra conversa.

Enquanto isso siga o link.