domingo, 24 de maio de 2009

Humanos, demasiado humanos.


Eu acabei ficando ocupada com o que escrevi no último post; sobre como as pessoas reagem, e interagem, quando ficam sabendo sobre alguém que está com cancer; sobre como o estigma da morte sentencia o portador. Não, eu não quero apontar o dedo pra ninguém quando escrevi sobre sair do próprio umbigo. Eu sei... somos humanos, demasiado humanos.
É que a gente vem construindo ao longo dos séculos um tipo de sociedade que fragiliza e desqualifica o sujeito, que está desconectado de si mesmo, suspenso por um fio que ele não sabe de onde vem. O Joel Birman (psicanalista, prof da UERJ) fala da 'cultura do espetáculo', onde precisamos sempre estar bonitos, alegres, produzindo e consumindo. Ninguém quer baixo astral; "- de problema, já chegam os meus", dizem por aí. Desconectado de si mesmo, desconectado do outro.
O estigma que o cancer carrega evoca a finitude do portador, mas, e aí está a questão, também a inexorável finitude de todos nós. Ninguém sabe como começa o cancer, o que faz com que qualquer um seja passível de ser acometido... duro, né? é muito melhor ficar à distância pra não ter que pensar nisso.
Desde o diagnostico eu decidi que não ia me esconder; nunca usei peruca ou fiz segredo. Em algumas situações omiti a noticia pra não ter que lidar com expressões (verbais e não verbais) de comiseração. Como eu já disse antes, já é muito ruim estar com a saúde abalada. Não foram poucas as vezes que eu 'dei força' pra alguém, afirmando que eu ia ficar boa, para consolar.
Então, meu depoimento é: se alguém próximo de vc estiver se tratando de um cancer, e se vc 'aguenta' se aproximar, não fale muito; procure a compaixão que está dentro de vc e abrace (cancer não é contagioso); ouça o que ele tem a dizer; não conte casos conhecidos, mesmo aqueles que deram certo - vai lembrar dos que não deram certo; reafirme seu apoio com atitudes; apareça para alguns minutos de compainha - o cansaço não permite longas conversas; leve uma qualquer coisa que a pessoa ache gostosa etc etc etc. O tratamento é longo, portanto, se vc realmente quer participar, prepare-se. Doses homeopáticas de carinho contribuem mais do que aparecer no domingo, ficar hoooras, e não voltar mais .
Apenas esteja junto... o resto o tratamento faz.

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