sexta-feira, 22 de maio de 2009

Só o amor constrói...


O enfrentamento do cancer é uma tarefa bem árdua e que não se limita ao tratamento prescrito, seja ele qual for. A partir do diagnóstico, o paciente, antes mesmo de iniciar o tratamento, já é obrigado a lidar com o estigma que estabelece que o mal é quase um sinônimo de morte. Mesmo eu, que me recusei a entrar nessa ideia, precisei lidar com o que as outras pessoas pensavam a respeito. E já conversei com outras pessoas conhecidas, inclusive pacientes meus, que tem a mesma vivencia. Esse recado chega das maneiras mais sutis. Tem gente que simplesmente some; tem gente que telefona pra alguém próximo de vc e diz que não vai visitá-lo porque não 'aguenta'; tem gente que vai pro outro extremo e se 'sacrifica' pelo paciente.
Por favor! será que dá pra sair do próprio umbigo e tentar perceber o outro e do que ele precisa?
O principal e comum efeito da quimioterapia é o extremo cansaço e a sensação de desfalecimento eminente, só que nos mantemos despertos, por que o tal cansaço (chamado astenia) não gera sono. Despertos mas incapazes de fazer qualquer coisa que dependa de atenção, como ler um livro ou assistir televisão; no máximo ouvir música. Essa sensação de desfalecimento tem efeito psicológico desgastante e desmotivador. Talvez seja por isso que alguns pacientes simplesmente desistem...
Adoecer, da forma como o cancer faz, remete o sujeito à fase em que era bebê, dependente e vulnerável. Se não há apoio e segurança, o sentimento é de desproteção e desesperança. Eu, por exemplo, sentia necessidade CORPORAL de ser colocada no colo, pra ser aninhada, protegida, cuidada.
Sou privilegiada por ter recebido isso, nos braços do meu marido, todas as noites, até hoje.

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